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Sejam bem vindos. O objetivo deste Blog é informar as pessoas sobre os mais variados assuntos, os quais não se vê com frequência nas mídias convencionais, em especial acerca dos direitos e luta da juventude e dos trabalhadores, inclusive, mas não só, desde o ponto de vista jurídico, já que sou advogado.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

UM MUNDO SOCIALISTA É POSSÍVEL


Fórum Social Mundial e capitalismo em crise: um mundo socialista é possível!

Entre os dias 27 de janeiro a 1º de fevereiro, acontece em Belém (PA) a nova edição do Fórum Social Mundial. Este ano, o evento será marcado por importantes fatos políticos da conjuntura internacional que reforçam ainda mais a importância da participação dos socialistas revolucionários nos debates que polarizarão o Fórum.


André Freire
da Direção Nacional do PSTU
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 Os ricos devem pagar pela crise: não há saída para os trabalhadores no capitalismo!
O primeiro grande fato em debate será a crise econômica mundial. Essa já é a principal crise do sistema capitalista desde a grande depressão de 1929. Ela continua se desenvolvendo nos países centrais, como Estados Unidos e Alemanha, mas chega fortemente aos chamados países em desenvolvimento. É o caso do Brasil, que enfrentou, no final de 2008, a maior onda de demissões de todos os países do mundo.

A direção do Fórum defende que, frente à grave crise do capitalismo, os ativistas presentes no evento adotem um programa que tenha como principal proposta um capitalismo mais humanitário, com elementos de regulação do mercado. Contra mais esta faceta do reformismo, a militância da Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (LIT-QI) e do PSTU estará presente no Fórum e defenderá que, diante da crise do capitalismo, um mundo socialista é possível!

Mas para isso se concretize nas lutas e mobilizações da classe trabalhadora em nível internacional, a esquerda socialista deve abandonar de uma vez por todas os atalhos reformistas e abraçar a única saída possível para a crise do capitalismo, que arrasta a classe trabalhadora para a barbárie: a defesa e a construção cotidiana da revolução socialista.

O programa da direção do Fórum é legitimado e apoiado também pelo PT e pelo governo Lula. Ambos estarão presentes em Belém para defender as medidas de proteção ao capital que o governo vem adotando, dando bilhões para os banqueiros e aos grandes empresários. Enquanto isso, esse governo vira as costas para os trabalhadores que estão sendo demitidos e tendo seus salários e direitos reduzidos.

A militância do PSTU será uma voz de oposição de esquerda ao governo brasileiro no Fórum, exigindo de Lula a decretação imediata de uma medida provisória que garanta a estabilidade no emprego para todos os trabalhadores.

Viva a resistência palestina! Abaixo o estado racista e fascista de Israel!
Outro grande fato internacional foi a invasão genocida praticada pelo Estado racista e fascista de Israel ao território palestino na Faixa de Gaza. Depois de mais de 1.200 mortos, o governo israelense retirou suas tropas da região para demonstrar colaboração com a posse do novo presidente dos EUA, Barak Obama. Mas no lugar de bombas, vem instalando, na prática, um bloqueio ao território dirigido pelo Hamas, que pode continuar a gerar mortes, desespero e miséria para o povo palestino.

Está sendo organizada uma grande passeata durante o Fórum em defesa da resistência palestina e contra a agressão genocida de Israel. A militância da LIT-QI e do PSTU estará lá, defendendo o fim do Estado de Israel e a construção de uma Palestina laica, democrática e não racista. Só a mobilização dos palestinos e dos trabalhadores em todo mundo pode derrotar mais esta ofensiva de Israel.

No último dia 15 de janeiro, o PSTU dedicou o seu programa à luta do povo palestino. Nas atividades em que estaremos presentes no Fórum, vamos fazer o mesmo. A solidariedade com os palestinos é um dever de toda a militância internacionalista.

O presidente é negro, mas a casa continua branca: governo Obama será uma continuidade da política imperialista dos EUA
A posse de Obama, no dia 20 de janeiro, gerou expectativas positivas não só dentro dos EUA, mas em todo o mundo, sobretudo nos países que sofrem com a dependência do imperialismo estadunidense. Esses tem a ilusão de que, com Obama, devido sua origem racial, poderemos viver dias de mais tolerância e menos exploração.

Porém a esquerda socialista não pode se calar diante da enorme campanha que o imperialismo e as burguesias, em nível internacional, estão realizando para jogar ilusões em milhões de trabalhadores, em especial os trabalhadores negros, de que o governo Obama será diferente dos demais governos imperialistas que estiveram à frente da casa Branca.

A política de Obama para a agressão de Israel à Faixa de Gaza foi uma primeira grande demonstração das reais pretensões do novo presidente. Ele vai manter, na essência, a política do imperialismo ianque para o Oriente Médio e para todo o planeta para assegurar à burguesia branca de seu país os lucros exorbitantes obtidos com a exploração das riquezas e das economias dos países em desenvolvimento.

Nas lutas da classe trabalhadora, reconstruir a IV Internacional
Frente à crise mundial do capitalismo, a LIT e o PSTU propõem aos socialistas revolucionários de todo mundo a tarefa histórica de reconstruir a IV Internacional. Essa organização revolucionária internacional foi construída por Leon Trostky em 1938, após a falência do estalinismo para a construção do Socialismo na ex-URSS e em escala internacional.

A primeira grande tarefa a ser encarada pelos marxistas revolucionários é o esforço para atualizar para o nosso período histórico o Programa de Transição – programa de fundação da IV – que busca resumir as tarefas imediatas e históricas do proletariado em sua luta pelo poder e pela revolução socialista.

Com o objetivo de dar mais um passo na atualização do programa de transição, a LIT e o PSTU promoverão no dia 30 de janeiro, às 9h, no Clube Monte Líbano, o Seminário Crise Econômica Internacional e reconstrução da IV Internacional. Além da palestra de Eduardo Almeida, dirigente da LIT e do PSTU, haverá a presença de representantes de vários partidos da Liga. A atividade contará, ainda, com a presença do camarada Didier Dominique, da organização haitiana Batalha Operária.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Cesare Battisti - "Por que tudo isso comigo?"

Em entrevista à ISTOÉ, Cesare Battisti fala de comunismo, guerrilha, arrependimento, inimigos, erros, perseguições e fugas

Por Luiza Villaméa

ISTOÉ - Como é ser o pivô de uma crise entre o Brasil e a Itália?
Cesare Battisti - Eu, sinceramente, não acredito que tudo isso esteja acontecendo.É enorme, é exagerado. Eu não sou essa pessoa tão importante. Sou um dos milhares de militantes italianos dos anos 1970. Sou um das centenas de militantes que se refugiaram no mundo inteiro, fugindo dos anos de chumbo da Itália. Por que tudo isso comigo?

ISTOÉ -O sr. teme que o Brasil volte atrás, por causa da reação forte da Itália?
Battisti - Não. A decisão do ministro Tarso Genro é bem fundamentada. Ele analisou todos os documentos. Não foi uma leitura superficial. E a perseguição política está provada nos documentos.Acho que o gesto do ministro Genro foi de coragem e de humanidade. A decisão é muito importante não só para mim, Cesare Battisti, mas para a humanidade. A Itália precisa reler a própria história. Nós estamos dando à nação italiana a possibilidade de reler sua história com serenidade, humanamente.

ISTOÉ - Junto com a reação italiana, reapareceu um antigo companheiro seu, Pietro Mutti, dizendo que o sr. participou da morte de um joalheiro e de um policial. O sr. matou estas pessoas?
Battisti - De jeito nenhum. Está muito longe da realidade. Na época desses assassinatos eu nem fazia mais parte dos PAC.

ISTOÉ - O sr. matou alguém?
Battisti - Eu nunca matei ninguém. Eu nunca fui um militante militar em nenhuma organização. Nem na Frente Ampla nem nos PAC, onde fiquei dois anos, entre 1976 e 1978. Saí dos PAC em maio de 1978, depois da morte de Aldo Moro (o ex-primeiro-ministro da Itália sequestrado e morto pelas Brigadas Vermelhas). Na época, milhares de militantes abandonaram os movimentos de luta armada. Foi um momento de debate muito importante na Itália.

ISTOÉ - O sr. repetiria que não matou ninguém na frente de Alberto, o filho do joalheiro Pierluigi Torregiani, que está na cadeira de rodas em consequência de um atentados dos PAC? Ele faz parte da campanha contra o sr. na Itália.
Battisti - É lamentável o que está fazendo o Alberto Torregiani. Ele sabe que eu não tenho nada a ver com isso. Porque eu já troquei muitas cartas com ele. Uma correspondência de amizade, de sinceridade e de respeito. Mas o Alberto Torregiani sofre pressão por parte do governo italiano porque ele, depois de tantos anos de luta, coitado, conseguiu uma aposentadoria como vítima do terrorismo. Desde 2004, tem uma pensão como vítima dos anos de chumbo na Itália. Eles estão fazendo pressão, já que podem tirar a pensão dele.

ISTOÉ - Por que o sr. entrou em contato com Alberto Torregiani?
Battisti - Sempre me sensibilizei com a situação do Alberto. Ele era um adolescente na época do atentado. Ao reagir ao ataque, o pai acabou acertando o filho, que ficou paraplégico.

ISTOÉ - E o Pietro Mutti, como o sr. entende a manifestação dele, depois de anos de silêncio?
Battisti - Ele repetiu, palavra por palavra, o que falou para o procurador Armando Spataro, em 1981. E, como outros "arrependidos", ele havia falado sob tortura. Agora, não posso afirmar que ele não foi ressuscitado pela máquina do governo italiano. Mas, mesmo se ele tiver reaparecido de verdade, ele não poderia fazer outra coisa senão repetir exatamente o que exige o procurador conhecido por ter chefiado o esquema de tortura na região de Milão. Naquela época, a tortura fazia parte do cotidiano da Itália. A Itália tem de reconhecer isso. Mas não pode. Porque a Itália é Europa. E a Itália não pode admitir que nos anos 1970 viveu uma guerra civil.

ISTOÉ - Mas era uma democracia. Não era uma ditadura.
Battisti - Havia uma democracia na qual a máfia estava no poder. Nós temos um primeiro-ministro que ficou décadas no poder e foi condenado por ser mafioso. Estou falando de Giulio Andreotti (líder do Partido Democrata-Cristão italiano, primeiro-ministro nos períodos de 1972-1973, 1976-1979 e 1989-1992). Havia também os fascistas, que nunca foram afastados do poder. E hoje, infelizmente, voltaram.

ISTOÉ - Na semana passada, uma mulher identificada como sua ex-namorada Maria Cecília B. disse na mídia italiana que o sr. confessou a ela o assassinato de um agente penitenciário.
Battisti - Maria Cecília Barbeta, que nunca foi minha namorada, foi uma colaboradora da Justiça. Era o que chamavam de colaboradora secundária, que confirmava detalhes para sustentar uma acusação.

ISTOÉ - E ela pertencia aos PAC?
Battisti - Eu nunca tive conhecimento disso. Acho que não. Era da Frente Ampla, na região de Veneza. Devem ter pedido a ela que confirmasse um detalhe. Aí, ela disse que numa noite eu confessei ser o assassino do agente penitenciário.

ISTOÉ - Quantos integrantes tinham os PAC?
Battisti - Na época em que fiquei nos PAC, entre 1976 e 1978, eu não conhecia todo o grupo, em nível nacional. Mas acho que tinha pelo menos umas 200 pessoas ativas, mas os PAC existiram até 1979. Tinha também grupos de apoio.

ISTOÉ - Qual era o seu papel nos PAC?
Battisti - Os PAC tinham um jornal, Senza galera. Significava "sem cadeias". Cadeias no sentido mais amplo, de Michel Foucault, a favela, o gueto. Eu entrei para colaborar com este jornal. Mas comecei a fazer política ilegal muito jovem, com 15, 16 anos. Participei de todas as lutas. Na época tinha luta para o divórcio, o aborto, para a redução das tarifas de eletricidade. Tinha também a luta pela legalização da maconha. Era uma época especial. E comecei a me interessar por política dentro de casa.

ISTOÉ - Como?
Battisti - Eu sou filho e neto de comunistas. Quando tinha dez anos, andava com meu irmão, com toda a família, com um cravo vermelho na roupa. Era uma enfermidade em toda a casa. Ser comunista naquela época não era tão fácil. Na escola, quando criança, eu tinha problemas com isso, porque a Igreja Católica não era muito tolerante com os comunistas.

ISTOÉ - E sua família?
Battisti - Minha mãe era católica, muito crente. Meu pai, não, mas era tolerante em relação à Igreja. E tínhamos muitos santos em casa. E havia também um quadro de Stálin. Quando eu era criança, com sete, oito anos, eu achava que Stálin era santo também. Um pouco estranho, por causa do bigode, mas eu era uma criança. Entrei cedo na juventude comunista. Depois, saí do partido comunista e entrei no que era o movimento de extrema esquerda da época.

ISTOÉ - E, pouco depois, o sr. foi preso pela primeira vez.
Battisti - Nessa época, nós financiávamos os movimentos com furtos, pequenos assaltos.

ISTOÉ - O sr. chegou a ser condenado por assalto à mão armada?
Battisti - Fui, por assalto a uma mansão, na região de Roma. Era na Frente Ampla. Todo mundo praticava ilegalidades nesta época. Chamávamos de expropriações proletárias. Não eram, claro, furtos contra pobres. Eram alvos escolhidos. Era uma prática generalizada. Servia para financiar nossos cartazes, jornais e pequenas revistas. As primeiras rádios livres, por exemplo, foram financiadas por atividades ilegais.

ISTOÉ - E por que o sr. resolveu vir para o Brasil?
Battisti - Eu morei dez anos no México. Fui fundador de uma revista e de uma bienal de artes gráficas. Sabia que no Brasil existiam muitos refugiados italianos. Eu tinha contato com alguns deles. Eles passavam muito bem. Tinham família, tinham trabalho. Estavam integrados. O povo brasileiro é parecido com o italiano.

ISTOÉ - Mas por que o Brasil em 2004?
Battisti - Não foi uma fuga, não foi uma escolha de verdade.

ISTOÉ - O sr. tinha apoio no Brasil?
Battisti - Tinha o contato do Fernando Gabeira. Não o conhecia pessoalmente, mas tínhamos amigos em comum. Tinha também outros endereços que nunca usei, como o do Ziraldo, o escritor. Gabeira foi muito receptivo comigo. Eu não falava português, mas ele falava francês e italiano. Foi uma grande ajuda para mim, psicologicamente.

ISTOÉ - Financeiramente também?
Battisti - Não, ele me deu ajuda psicológica. Eu vivia dos direitos autorais dos livros que tenho publicado na França. E, desde que cheguei ao Brasil, já escrevi outros três livros. O último, eu preciso revisar para entregar para a editora. É uma continuação de Minha luta sem fim, que foi publicado no Brasil.

ISTOÉ - Como foi a sua vinda para o Brasil? Operacionalmente, como se deu?
Battisti - Uma parte da França me ajudava. Havia um grande movimento popular, intelectual, que se manifestou a meu favor. E neste momento existiam também alguns membros do governo, que não posso citar os nomes, que haviam se comprometido conosco, refugiados italianos. Eles estavam com dificuldade de aceitar que a França renunciara à palavra dada.

ISTOÉ - Eles integravam os serviços de segurança da França?
Battisti - Eram pessoas do serviço secreto. Deste pessoal chegou a orientação para eu abandonar a França. A ideia de minha fuga para o Brasil foi de um integrante do serviço secreto da França. No escritório de meus advogados franceses, um deles me disse que a Itália estava pressionando, por causa das denúncias que eu fazia em meus livros. E ele me falou do Brasil, lembrou que havia muitos refugiados italianos no Brasil. Eu, por minha vez, me lembrei de tudo que tinha ouvido falar sobre o Brasil quando vivi no México.

ISTOÉ - E como essa saída se concretizou?
Battisti - Uma semana depois, ele mandou outra pessoa me entregar um passaporte, italiano, com minha foto e meus dados.

ISTOÉ - E foram eles que organizaram sua vinda para o Brasil?
Battisti - Não. Eu fui de carro da França para a Espanha e Portugal. De Lisboa, fui para a Ilha da Madeira. De lá, fui de barco até as Ilhas Canárias. Nas Canárias, peguei um avião para Cabo Verde e, em seguida, para Fortaleza.

ISTOÉ - O sr. tinha algum contato em Fortaleza?
Battisti - Não, mas lá aumentaram as minhas suspeitas de que havia uma informação cifrada no código de barra do meu passaporte. Em todos os lugares, alguém sabia que eu estava chegando. Em Fortaleza, foi na fila do controle de passaporte. Faltava pouco para a minha vez. Chegaram três pessoas. Uma delas, uma mulher, falava francês perfeitamente. Falou que precisava ativar o código de barras de meu passaporte. Me levaram para uma sala, me convidaram para um cafezinho e, depois de dez minutos, me devolveram o passaporte.

ISTOÉ - O sr. acredita então que foi monitorado no Brasil?
Battisti - Durante dois anos e meio, fui constantemente monitorado.

ISTOÉ - Por quem?
Battisti - Por brasileiros e pelos franceses. Sempre. Acho que em algum momento entraram também os italianos.

ISTOÉ - Mas, se o sr. não tem importância, como disse, por que esse monitoramento?
Battisti - Não sei. Fico me perguntando o porquê e os custos. Quem estava financiando isso aí?

ISTOÉ - O que sobrou da militância?
Battisti - Eu continuo sendo um comunista de verdade, não no sentido partidário. As minhas ideias não mudaram. Continuo pensando que tem muita injustiça social, que a humanidade tem ainda muito a fazer para se desenvolver. Minha maneira de intervir nisso é através da escrita, do voluntariado. Na França, dei cursos de escrita para presos, ajudei a montar bibliotecas em comunidades carentes. Por meio dessas atividades, eu continuo minha militância.

ISTOÉ - E como o sr. avalia a luta armada?
Battisti - A luta armada foi um erro. Agora não acredito que se possa fazer uma revolução pelas armas. Eu nunca atirei em ninguém, mas usei armas em operações para o financiamento das organizações.

ISTOÉ - Se o sr. olhasse para trás e pudesse alterar algo em sua vida, o que mudaria?
Battisti - Eu não mudaria minhas ideias, mudaria os meios para alcançar os resultados. Nunca acreditei que se podia mudar o mundo matando pessoas. Nem quando entrei nos PAC, porque a organização não incluía a morte de pessoas em suas diretrizes. Os PAC se diferenciavam das Brigadas Vermelhas e de outras organizações por esta razão. E foi este o motivo de minha ruptura com os PAC depois da morte de Aldo Moro. Os PAC defenderam a morte de Aldo Moro.

ISTOÉ - O sr. se lembra da última vez que se encontrou com Pietro Mutti?
Battisti - Foi horrível. Porque eu saí da prisão em um momento de derrota total. Estávamos em 1981. Só alguns fanáticos acreditavam ainda que se podia fazer algo com as armas na Itália. Quase todos os chefes de organizações - na Itália eram mais de 100 grupos armados - estavam presos. Na cadeia, nos reuníamos. Para nós, a ofensiva armada tinha acabado.

ISTOÉ - Mas o sr. não foi resgatado desta prisão por uma operação armada?
Battisti - É. Eu não saí sozinho. Fui escolhido para ser libertado por meio de uma ação pesada, durante a qual não se usou violência física contra ninguém, com uma missão. Falar com Pietro Mutti e outros chefes de organizações para deixar a iniciativa armada, fazer uma retirada estratégica, me reintegrar na Frente Ampla e continuar as ações de financiamento para sustentar os que estavam na clandestinidade e também os que estavam presos.

ISTOÉ - E como se saiu nesta missão?
Battisti - Esta missão foi um desastre. O Pietro Mutti estava sob uma pressão terrível, tinha sob suas ordens jovens de 18, 20 anos, pelos quais ele se sentia responsável. Brigamos. Esse último encontro foi uma grande briga durante a qual eu joguei um cinzeiro na cara de uma militante que me chamou de traidor. Porque eles acharam que eu sairia da cadeia falando em Che Guevara e na luta pelas armas. E eu cheguei dizendo que tudo estava acabado.

ISTOÉ - O sr. desenvolve algum trabalho na cadeia?
Battisti - Eu estou acabando meu terceiro livro. O segundo, que está no computador, é Ser Bambu. O terceiro se chama Ao Pé do Muro. É uma trilogia, uma continuação.

ISTOÉ - Então é autobiográfico?
Battisti - É autobiográfico, mas é um pouco diferente do primeiro. Agora já retomei um pouco meu estilo de romance.

ISTOÉ - O sr. escreve à mão ou no computador?
Battisti - À mão.

ISTOÉ - Como reage à repercussão internacional de seu caso? É mais difícil lidar com o cotidiano da cadeia?
Battisti - Agora tenho assistência psiquiátrica e estou tomando antidepressivo.

ISTOÉ - Mas o sr. parece animado. É a perspectiva de ser libertado?
Battisti - Um pouco e fiquei animado com sua entrevista. Mas a pressão é enorme. Cada vez que penso nisso, não acredito que esteja acontecendo comigo.

ISTOÉ - Vê as notícias a seu respeito na TV?
Battisti - Fala-se muito sobre meu caso. E os outros presos têm muita solidariedade. Nunca tive problemas nem com os presos, nem com os agentes.

ISTOÉ - Há uma acusação de que o sr. matou o comandante de uma cadeia, os agentes penitenciários aqui sabem disso?
Battisti - Acho que sim. Mas atualmente estou sendo tratado muito bem, com respeito. E os agentes me tratam como qualquer outro preso.

ISTOÉ - Como encara a decisão final que está para sair do Supremo?
Battisti - O Brasil me concedeu meu refúgio político. O procurador-geral da República deu parecer favorável ao refúgio. Acho que o Supremo irá na mesma direção, que já tomou em outros casos.

ISTOÉ - O sr. está tranquilo ou ansioso?
Battisti - Não estou tranquilo porque a pressão é enorme. Está arrebentando comigo. As notícias, a mídia, eu não estou preparado para isso. Agora, uma coisa me surpreende de um lado: porque essa mídia que está fazendo todo esse barulho não se pergunta por que há essa reação exagerada da Itália. Essa histeria da Itália. Por que está acontecendo comigo? Por que o presidente e os ministros italianos estão reagindo dessa maneira pessoal?

ISTOÉ - A primeira-dama da França, Carla Bruni, interveio a seu favor?
Battisti - Eu acho isso uma mentira. E acho que a Carla Bruni não teria porque intervir a meu favor.

ISTOÉ - Mas nos documentos encaminhados ao Conare, consta que a irmã dela, Valerie, interveio no passado.
Battisti - Não sei. Ela declarou isso oficialmente?

ISTOÉ - O sr. conversa sobre sua situação com suas filhas?
Battisti - Sim. Sim.

ISTOÉ - É difícil para elas?
Battisti - Não. Porque nunca escondi minha vida. Desde criança, cresceram, conhecendo tudo pouco a pouco.

ISTOÉ - Mas na imprensa internacional o sr. é um terrorista, assassino.
Battisti - Na Itália, não estão todos contra mim, na França, muitas pessoas estão a meu favor. Muita gente não acredita que sou terrorista ou assassino.

ISTOÉ - A Fred Vargas abre a lista dessas pessoas?
Battisti - Uma pessoa que conhece profundamente meu processo. Acho que ela conhece mais que eu. Foi a única pessoa no mundo que leu essas duas malas de processos.

ISTOÉ - Em quem o sr. se apega para continuar tocando em frente, para ter força, diante dessa pressão? O sr. tem fé em Deus?
Battisti - Sim.

ISTOÉ - Com sua formação, o sr. acredita em Deus?
Battisti - Acredito numa força superior. Na lei superior universal. Sempre. Misturo isso com minha vida e meu pensamento político. Acho que estou agindo na direção dessa força superior. Mesmo quando errei. Por exemplo, usei armas, mesmo não matando ninguém, estava num processo de violência. Mas sempre acreditei.

ISTOÉ - A que o senhor se apega nesses momentos difíceis?
Battisti - Às pessoas, às milhares de cartas que chegam para mim.

ISTOÉ - Que pessoas?
Battisti - Pessoas que não me conhecem. Muitas cartas de pessoas que eu nem imaginava que gostassem de mim, do mundo inteiro. De pessoas que conheci nos anos 70, que conheço, que sabem porque está acontecendo isso comigo.

ISTOÉ - O sr. acha que seus livros influenciam?
Battisti - Com certeza.

ISTOÉ - Livros denunciando a tortura nos anos 70?
Battisti - Denunciando o que a Itália nunca quis assumir. Na Itália existiu na guerra civil, como denunciamos para o orquestrador da repressão na época, o ex-presidente da República italiana Francesco Cossiga. Ele mandou uma carta pessoal para mim, me reconhecendo como militante político. A senhora pode ter acesso a essa carta. Ele diz que éramos um grupo revolucionário que queria tomar o poder pela via das armas num projeto socialista. Palavras do Francesco Cossiga. Será que Berlusconi, o grande mafioso, tem mais crédito do que Cossiga?

ISTOÉ - O que o sr. gostaria de fazer depois de sair da prisão?
Battisti - Neste período na cadeia, li muito, aprofundei muito o conhecimento do país, historicamente, socialmente, culturalmente. Para mim o Brasil é um país muito interessante do ponto de vista humano, do ponto de vista também profissional. Eu posso fazer muito aqui, exatamente o que fazia na França, ter muita iniciativa cultural, continuar a escrever, reunir aqui a minha família.

ISTOÉ - O sr. quer trazer a Valentina e a Charlène?
Battisti - Eu quero trazer as minhas filhas. Não estou casado. Quero trazer a mãe de minhas filhas também. A Valentina cursou biogenética. Tem projeto para ela aqui no Brasil, há muito que fazer nessa área. A biogenétia aqui no Brasil é um assunto muito importante, o mundo inteiro está olhando para o Brasil. Eu estou sonhando com isso.

ISTOÉ - O sr. tem algum lugar de preferência?
Battisti - Eu gosto muito do Rio de Janeiro. É um paraíso. É uma maravilha. Mas na verdade não sei onde vou viver. Acho que minha família vai adorar o Rio de Janeiro.

ISTOÉ - Por que o sr. demorou 16 anos para falar que não matou ninguém?
Battisti - Porque os outros que confessaram, disseram que tinham matado de verdade. Se eu me defendesse, me diferenciaria e abriria uma brecha na doutrina Mitterrand, que impunha a mesma defesa para todos. Nada de sustentações individuais, como inocência, revelia, como alegações pessoais. Eu obedeço a essa norma de conduta. Em nenhuma das etapas desse processo reivindico a inocência. Fiz um documentário sobre os anos de chumbo na Itália e essa é a causa da vingança dos poderosos políticos italianos. Eu não posso me separar. Para dizer que sou inocente, tenho que renunciar a defesa dos advogados. Fiz procuração para outro advogado, que está me defendendo na França, para poder dizer, agora alto, que não matei ninguém e fui condenado à revelia. Para isso, tive de sair da defesa coletiva.

ISTOÉ - E por isso não foi feita essa defesa pontual?
Battisti - Exato. Acho que a Itália mente. O governo italiano está mentindo. A mídia italiana, em sua maioria, pertence ao Berlusconi. Estão mentindo. Pessoas estão manipulando, ou estão deixando manipular. Nunca fui ouvido pela Justiça italiana sobre esses quatro homicídios. Nunca. Não existe. Não fui ouvido nenhuma vez num inquérito, na fase de instrução.

ISTOÉ - A França se recusou a extraditar Marina Petrella, que era da Brigada.
Battisti - Sim. A situação penal dela é muito mais pesada que a minha. Por que não fazem todo esse barulho, por que não fazem nada? Essa pessoa está sendo acusada de coisas muito mais pesadas do que eu. Porque não fazem nada? A pergunta que faço é esta: estaria disposta a Justiça italiana hoje a me ouvir pela primeira vez sobre esses quatro homicídios, antes de me enterrar vivo? A Itália estaria disposta a me ouvir uma só vez sobre esses quatro homicídios antes de me condenar, como condena a Petrella, à privação da luz solar? Privar um homem da luz solar é um homicídio.

ISTOÉ - Como é o seu cotidiano aqui?
Battisti - De manhã tem café. Os agentes passam o café às 7h10. Neste momento a gente tem que estar acordado e responder à conferência. Fico dentro da cela. Dorme-se com cela trancada. A cela é aberta para o café da manhã. A gente toma um copo de leite de soja. Tem café, mas tem que comprar na cantina. A gente passeia no pátio. Cada um se liga nas suas atividades.

ISTOÉ - E você escreve?
Battisti - Quando volto para a cela começo a preparar a cabeça para escrever. Mas, nesses últimos dias, não consigo. Há muito pressão, não consigo me concentrar.

ISTOÉ - Você tem amigos aqui?
Battisti - Somos umas 50 pessoas. Somos todos amigos. Um precisa fazer pelo outro.

ISTOÉ - À noite, vocês vão dormir a que horas?
Battisti - O banho de sol, de segunda a sexta, termina às 4 da tarde. Todo mundo volta para a cela, onde cada um faz o que quiser. Lê, vê televisão. Antes das 7h30 eu não ligo a televisão. A televisão é do preso. Meu companheiro de cela também não gosta de televisão o dia todo. Isso é bom para mim, que gosto de ler e escrever. O jornal a gente vê, às 8.

ISTOÉ - No dia 18 de dezembro você comemorou seu aniversário aqui na cadeia?
Battisti - Sim. Aqui na cadeia. Com bolo e tudo.

ISTOÉ - Quem fez o bolo?
Battisti - Não sei.

ISTOÉ - Quem fez?
Battisti - Não sei. Chegaram 10 pessoas. Foi a ex-prefeita de Fortaleza que chegou. A Maria Luiza Fontenelle. Ela e outras pessoas.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

SINDICALISMO COMBATIVO: SINDICATOS REJEITAM PROPOSTADA VALE DE REDUÇÃO DE SALÁRIO


Vale: dois sindicatos rejeitam licença remunerada

23 de Janeiro de 2009 | 20:20

Dois sindicatos que representam cerca de 7 mil trabalhadores da Vale do Rio Doce em Minas Gerais rejeitaram a proposta da mineradora de licença remunerada com redução dos salários em 50%. Em vez de corte na remuneração dos trabalhadores, as entidades querem que a mineradora garanta a estabilidade nos empregos e mantenha salários integrais às custas da redução em 50% na remuneração aos acionistas. A diretoria executiva da Vale recomendou ao conselho de administração que a remuneração mínima aos acionistas seja de US$ 2,5 bilhões neste ano. Os sindicatos - que representam os trabalhadores de Congonhas, Ouro Preto, Itabira - querem que o conselho aprove um teto de remuneração aos acionistas de US$ 1,25 bilhão, metade do valor indicado pela diretoria. Querem também que a companhia abdique de qualquer investimento no exterior para poder manter os empregos atuais. Além de rejeitar a proposta de licença remunerada com redução do salário-base, os dois sindicatos querem que a Vale reintegre os demitidos no fim de 2008 e no início de 2009. Os termos da contraproposta dos trabalhadores constam do documento intitulado "Proposta pública ao conselho de administração da Vale para manutenção dos empregos e benefícios" e divulgado ontem. Na proposta, os dois sindicatos argumentam que a Vale, maior empresa privada do País, ampliou em 40 vezes seu valor de mercado, tem US$ 15 bilhões em caixa e encontra-se em situação privilegiada para enfrentar os efeitos da crise econômica mundial. "Essa situação privilegiada da empresa pode e deve ser motivo de segurança para o trabalhador que, trabalhando em companhia de tal porte, não deveria temer demissões ou perda de benefícios", diz o texto assinado pelos presidentes dos dois sindicatos - Paulo Soares de Souza, que além de presidente do Sindicato Metabase de Itabira e região é membro do Conselho de Administração da empresa, e Valério Vieira dos Santos, presidente do Metabase de Congonhas, Ouro Preto e região. No documento, os sindicalistas argumentam ainda que a Vale sempre vinculou sua imagem à responsabilidade social. Por isso, não deveria ser de seu interesse repassar aos seus empregados os efeitos integrais da crise econômica. "Temos a certeza de que nossa proposta é a melhor alternativa para garantir uma passagem tranquila por esses tempos de turbulência", conclui o texto.

Grifos: Adriano Espíndola

Fonte: PORTAL EXAME - AGÊNCIA ESTADO

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

BH VIRA A CAPITAL DO DESEMPREGO - Só em dezembro, cidade de 330 mil habitantes teve 11.101 demitidos


Abaixo notícia preocupante para Minas Gerais, somos a capital do desemprego.

Isso porque, em resposta à crise, a patronal quer que os trabalhadores paguem a conta desta, demitindo. Esquecem dos altos lucros obtidos nos últimos anos, lucros que deveriam ser usados, uma pequena parte do que foi lucrado, para garantir o emprego dos trabalhadores. 

Equivoca-se o setor do sindicalismo que acredita que reduzindo os salários vai se evitar o desemprego, uma vez que com os salários reduzidos, os trabalhadores compraram menos, acarretando a diminuição das vendas e, por conseguinte, a diminuição da produção, aumentando, assim, em vez de diminuir, o desemprego.

Os trabalhadores precisamos nos mobilizar, exigindo estabilidade no emprego e anulação das dispensas ocorridas. Os patrões que lucraram no último período que devem suportar o peso da crise.

Adriano Espíndola - vejam a notícia abaixo.

BH vira a capital do desemprego

Em dezembro, 21 mil foram demitidos segundo Caged; em termos relativos, corte é maior que em SP e Porto Alegre

Andrea Vialli

A região metropolitana de Belo Horizonte começou o ano de 2009 com um novo e amargo título: capital nacional do desemprego. A Grande BH foi a que mais perdeu empregos em dezembro - foram 21.059 vagas a menos no mês, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados na semana passada. É uma queda de 1,64% em relação a dezembro de 2007. 

Em termos absolutos, a Grande São Paulo perdeu mais postos de trabalho - 63.241 vagas - mas o impacto do desemprego na capital mineira é maior em termos proporcionais, ao se levar em conta o tamanho da população. Na Grande BH, 0,84% da população economicamente ativa (PEA) perdeu o emprego. Na Região Metropolitana de São Paulo, o desemprego foi de 0,64% e na Grande Porto Alegre, de 0,56% da PEA. 

"Belo Horizonte foi a capital que mais contratou ao longo de 2008 e também a que mais rapidamente sentiu os efeitos da crise internacional. Isso levou a um maior número de demissões em dezembro", afirma Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

A queda nas exportações e na demanda interna de setores como mineração, metalurgia e siderurgia - que juntos respondem por 40% do Produto Interno Bruto (PIB) da indústria de Minas Gerais - limou 88.062 vagas de trabalho em todo o Estado em dezembro. 

"O bom desempenho da economia mineira até outubro de 2008 era resultado da demanda aquecida por minério de ferro e aço. Agora, mineradoras e siderúrgicas são justamente as indústrias que mais demitem em Minas Gerais", diz Osmani Teixeira de Abreu, presidente do conselho de Relações do Trabalho da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).

Em novembro, o PIB da indústria mineira encolheu 25% em comparação com outubro, segundo o último balanço divulgado pela Fiemg. Nos próximos dias saem os números de dezembro. "Serão piores", diz Abreu.

Com a fartura de crédito até setembro, a indústria automobilística (13% do PIB da indústria) também vinha contribuindo para o aquecimento da economia de Minas Gerais. Agora, para evitar que o nível de emprego caia ainda mais na região de Betim, município da Grande BH que abriga a Fiat e grande parte de seus fornecedores de autopeças, o sindicato dos metalúrgicos já aceitou discutir a flexibilização de contratos de trabalho com 14 empresas.

INCERTEZA

O mecânico-borracheiro Márcio Antônio Quintão, de 40 anos, recebeu uma péssima notícia no dia 31 de dezembro. Após nove meses de trabalho, ele foi dispensado pela empresa Bailac, uma prestadora de serviços da Vale em Itabira, a 104 quilômetros de Belo Horizonte.

Quintão recebia um salário de R$ 927. Agora, o orçamento da família de quatro pessoas se resume ao salário mínimo que a esposa, Valdete de Morais, de 38 anos, recebe como empregada doméstica. "Eu aceitaria até a redução do salário. O que não posso é ficar sem emprego, isso acaba com a gente."

A suspensão e cancelamento de contratos da mineradora com empreiteiras prestadoras de serviço já levaram à demissão de 1.560 funcionários terceirizados somente em Itabira, segundo o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Extração do Ferro e Metais Básicos (Metabase) do município e região. Apenas uma empreiteira, a Sales Gama, demitiu 600 trabalhadores. Além de Quintão, outros 53 empregados foram dispensados pela Bailac após o estouro da crise internacional.

De acordo com o economista Hélio Zylberstajn, pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), as empresas que vinham em ritmo acelerado até o terceiro trimestre de 2008 agora terão de se adaptar aos novos tempos, o que significa perda de postos de trabalho. "Essas companhias estavam ajustadas para o crescimento crescente de 2008. Em 2009 isso não vai acontecer."

FONTE:JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO DOMINGO, 25.01.2009

domingo, 25 de janeiro de 2009

Operação Chumbo Impune - EDUARDO GALEANO -- FAIXA DE GAZA


Operação Chumbo Impune

Eduardo Galeano


Para justificar-se, o terrorismo de estado fabrica terroristas: semeia ódio e colhe pretextos. Tudo indica que esta carniceria de Gaza, que segundo seus autores quer acabar com os terroristas, logrará multiplicá-los.

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Desde 1948, os palestinos vivem condenados à humilhação perpétua. Não podem nem respirar sem permissão. Perderam sua pátria, suas terras, sua água, sua liberdade, tudo. Nem sequer têm direito a eleger seus governantes. Quando votam em quem não deveriam votar, são castigados. Gaza está sendo castigada. Gaza se converteu numa ratoeira sem saída, desde que o Hamas ganhou limpidamente as eleições no ano 2006. Algo parecido havia ocorrido em 1932, quando o Partido Comunista triunfou nas eleições de El Salvador. Banhados em sangue, os salvadorenhos expiaram sua má conduta e desde então vivem submetidos a ditaduras militares. A democracia é um luxo que nem todos merecem.

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São filhos da impotência os foguetes caseiros que os militantes do Hamas, encurralados em Gaza, disparam com péssima pontaria sobre as terras que haviam sido palestinas e que a ocupação israelita usurpou. E o desespero, às margens da loucura suicida, é a mãe das bravatas que negam o direito à existência de Israel, gritos sem nenhuma eficácia, enquanto a muito eficaz guerra de extermínio está negando, há anos, o direito à existência da Palestina.
Já sobra pouco da Palestina. Passo a passo, Israel a está apagando do mapa. Os colonos invadem, e atrás deles os soldados vão corrigindo a fronteira. As balas sacralizam o despojo, em legítima defesa.
Não há guerra agressiva que não diga ser guerra defensiva. Hitler invadiu a Polônia para evitar que a Polônia invadisse a Alemanha. Bush Invadiu o Iraque para evitar que o Iraque invadisse o mundo. Em cada uma das guerras defensivas, Israel tragou outro pedaço da Palestina, e os almoços prosseguem. O ato de devorar se justifica pelos títulos de propriedade que a Bíblia outorgou, pelos dois mil anos de perseguição que o povo judeu sofreu, e pelo pânico que geram os palestinos que estão observando.

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Israel é o país que jamais cumpre as recomendações nem as resoluções das Nações Unidas, o que nunca acata as sentenças dos tribunais internacionais, o que burla as leis internacionais, e é também o único país que legalizou a tortura de prisioneiros.
Quem deu a Israel o direito de negar todos os direitos? De onde vem a impunidade com que Israel está executando a matança de Gaza? O governo espanhol não pôde bombardear impunemente o País Basco para acabar com o ETA, nem o governo britânico pôde arrasar a Irlanda para liquidar o IRA. Por acaso a tragédia do Holocausto implica uma apólice de eterna impunidade? Ou essa luz verde provem da potência que quer mandar em tudo e que tem em Israel o mais incondicional de seus vassalos?

O exército de Israel, o mais moderno e sofisticado do mundo, sabe a quem mata. Não mata por erro. Mata por horror. As vítimas civis se chamam danos colaterais, segundo o dicionário de outras guerras imperiais. Em Gaza, de cada dez danos colaterais, três são crianças. E somam a milhares os mutilados, vítimas da tecnologia do esquartejamento humano, que a indústria militar está ensaiando exitosamente nesta operação de limpeza étnica.
E como sempre, sempre o mesmo: em Gaza, cem a um. Por cada cem palestinos mortos, um israelense.
Gente perigosa, adverte o outro bombardeio, a cargo dos meios massivos de manipulação, que nos convidam a crer que uma vida israelense vale tanto quanto cem vidas palestinas. E esses meios também nos convidam a crer que são humanitárias as duzentas bombas atômicas de Israel, e que uma potência nuclear chamada Iran foi a que aniquilou Hiroshima e Nagasaki.

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Existe a chamada comunidade internacional?
É ela algo mais que um clube de comerciantes, banqueiros e guerreiros? É algo mais que o nome artístico que os Estados Unidos se colocam quando fazem teatro?
Ante a tragédia de Gaza, a hipocrisia mundial se manifesta mais uma vez. Como sempre, a indiferença, os discursos vazios, as declarações ocas, as declamações em voz alta, as posturas ambíguas, rendem tributo à sagrada impunidade.
Ante à tragédia de Gaza, os países árabes lavam as mãos. Como sempre. E como sempre, os países europeus esfregam as mãos.

A velha Europa, tão capaz de beleza e perversidade, derrama uma ou outra lágrima, enquanto secretamente celebra esta jogada de mestre. Porque a caça aos judeus foi sempre um costume europeu, mas há meio século, essa dívida histórica está sendo cobrada aos palestinos, que também são semitas e que nunca foram, nem são, anti-semitas. Eles estão pagando, com sangue "contante e soante", uma conta alheia.

(Este artigo está dedicado a meus amigos judeus assassinados pelas ditaduras latino-americanas que Israel assessorou)

robim hodd dos ricos: VALE QUER TIRAR DINHEIRO DO SALÁRIO DOS TRABALHADORES PARA DAR A ACIONISTAS




VALE QUER TIRAR DINHEIRO DO SALÁRIO DOS TRABALHADORES PARA DAR A ACIONISTAS

É inacreditável o desrespeito com que empresas como a Vale tratam seus empregados, as autoridades públicas e o nosso país. A diretoria da Vale, alegando a crise, decide propor a redução do salário pela metade, para 19 mil de seus funcionários. Ao mesmo tempo anuncia que repassará como lucro, pelo menos 2,5 bilhões de dólares aos seus acionistas, e que também está estudando a compra de uma nova empresa.

E completa: os trabalhadores que aceitarem a redução do salário terão emprego garantido enquanto o salário estiver reduzido, ou seja, poderão ser demitidos depois. E os que não aceitarem, são diretamente ameaçados de demissão pela empresa.

Tudo isso depois de o governo brasileiro anunciar que vai fiscalizar as empresas que receberam recursos públicos para seus projetos, pois os contratos não permitiriam demissão de trabalhadores. É bom lembrar que o BNDES, com recursos públicos, acaba de conceder um "cheque especial" para a Vale de 7 bilhões de reais, para não falar das outras dezenas de bilhões deste mesmo banco que se encontram nas mãos da Vale em vários contratos. Cabe lembrar também que o governo detem ações de "classe especial" da empresa, o que lhe dá direito a veto em várias ações administrativas da companhia, sem falar que, na verdade são os Fundos de Pensão controlados pelo governo que detem a maioria acionária da empresa.

A Conlutas vem a público protestar veementemente contra o desrespeito aos trabalhadores que esta proposta da empresa sinaliza. A Vale não tem necessidade de demitir ou de reduzir o salário dos seus empregados, apesar da crise. Lucrou cerca de 27 bilhões de reais apenas no ano passado, 2008. Com este dinheiro poderia pagar o salário de todos os seus empregados por mais de 8 anos! No entanto, como a própria empresa trata de deixar claro, ela não quer abrir mão de engordar o lucro dos milionários que são seus acionistas com 2,5 bilhões de dólares, pelo menos, em 2009. Nesta hora desaparece a crise.

E vem cobrar também das autoridades públicas, uma medida imediata que impeça as demissões, que são usadas pelas empresas para chantagear seus empregados, obrigando-os a aceitar redução de salários e direitos. Queremos saber se é verdadeira a declaração dada ainda ontem pelo Ministro da Fazenda, Guido Mantega. Queremos saber se eram verdadeiras as afirmações dos Ministros Luis Dulci e Carlos Lupi, em reunião com a Conlutas ainda no início desta semana. Quais são as medidas concretas e imediatas que o governo vai adotar contra Vale? Se não forem adotadas medidas que forcem a empresa a voltar atrás no anuncio que fez no dia de ontem (22/01), então a sociedade brasileira estará autorizada a entender as declarações das autoridades como pura enrolação, enganação para justificar o que até agora todos estão vendo: o governo destinar bilhões de recursos públicos para empresas e bancos aumentarem seus lucros.

Conclamamos os trabalhadores da Vale a resistirem e a lutarem para preservar seu emprego, seu salário e direitos, ao lado dos demais trabalhadores que estão resistindo em todo o país. Conclamamos as demais Centrais Sindicais a cerrarmos fileiras na construção de um amplo processo de mobilização em todo o país, contra as demissões e as chantagens que as empresas estão fazendo em todo o país, e para exigir do governo uma medida provisória que proíba demissões de trabalhadores. Por isso, convocamos a todos para que participem do protesto que ocorrerá dia 11 de fevereiro, no Rio de Janeiro, em frente ao prédio da Vale.

São Paulo, 23 de janeiro de 2009
Coordenação Nacional da Conlutas