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Sejam bem vindos. O objetivo deste Blog é informar as pessoas sobre os mais variados assuntos, os quais não se vê com frequência nas mídias convencionais, em especial acerca dos direitos e luta da juventude e dos trabalhadores, inclusive, mas não só, desde o ponto de vista jurídico, já que sou advogado.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

A SANFONA QUE NÃO CALA: vinte anos sem o Rei do Baião


ROBERTO AGUIAR, de Aracaju-SE, para o Site do PSTU

No dia 2 de agosto de 1989, morreu um dos maiores ícones da música brasileira, Luiz Gonzaga, o “Rei do Baião”

Gonzaga foi o criador de um gênero musical

genuinamente brasileiro, o forró. Fez com a sanfona, o triângulo e a zabumba o ritmo que foi popularizado de norte a sul do país, retratando, de uma forma simples e bela, o cotidiano do homem nordestino e de sua cultura. O Rei do Baião fez do forró o mais brasileiro de todos os ritmos.

As dificuldades vividas pelo povo nordestino, a simplicidade de vida e o orgulho pela sua terra são notórios nas letras, no ritmo, na dança, no chapéu de couro que são características únicas do pé-de-serra.

Nascido em Exu, interior de Pernambuco, Luiz Gonzaga era um homem simples, negro e matuto. Segundo ele, “um amarelo, bochudo, zambeta, cabeça de papagaio, feio pá peste”. Observando o pai animar bailes e consertar sanfonas, Gonzaga ganha intimidade com o instrumento que mudou sua vida ainda criança. No inicio, sua mãe Dona Santana não queria que o filho seguisse o caminho do pai, Seu Januário.

Quando jovem, em 1930, Gonzaga se alistou ao exército e ficou conhecido como “Bico de Aço” pela sua habilidade com a corneta. Em 1939, sai das forças armadas e vai para o Rio de Janeiro tentar a sorte como músico. Começou a cantar no “Mangue”, região do meretrício do Rio de Janeiro, como ele dizia. Tocou de tudo: choros, sambas, valsas, tangos e outros ritmos. Porém nenhum ritmo de sua região. Certa vez, foi questionado por um grupo de cearenses, por não tocar músicas nordestinas. Com o puxão de orelhas, as músicas de sua terra passaram a ser o carro-chefe de sua carreira.

“Dança da Mariquinha” foi a primeira música gravada como cantor, em 1945. Nessa data, já tinha sido contratado pela Rádio Nacional depois do sucesso alcançado ao vencer, em 1941, o concurso no famoso programa de Ary Barroso com a música “Vira e Mexe”.

Seu maior sucesso, sem dúvida alguma, foi e continua sendo “Asa Branca”. Uma espécie de hino do nordeste, a música foi composta em parceira com Humberto Teixeira e gravada em 1947. A primeira lição do abc nordestino é aprender a cantar “Asa Branca”. A letra fala do sertão, da seca e da esperança “da chuva cair de novo, pra mim voltar pro meu sertão”. Em parcerias com outros grandes compositores como Zé Dantas, Onildo Almeida e Zé Marcolino criou lindas canções que até hoje são obrigatórias nos repertórios das grandes festas juninas que animam o nordeste.

Luiz Gonzaga e a Política

No que se refere à política, Gonzaga foi muito conservador. Apesar de suas composições retratarem a vida difícil do povo nordestino, como nas músicas “Asa Branca”, “Vozes da Seca”, “Ai seu Generá” e “Andarilho”, tinha horror aos políticos denominados de esquerda. Em sua passagem pelo exército, passou admirar os generais e, em 1964, declarou apoio à ditadura.

Gonzaga sempre era convidado para tocar nos saraus presidenciais e chegou a afirmar que “não havia tortura no Brasil”. Mas, foi vítima da própria ditadura, que o proibiu de cantar nos shows as músicas “Vozes da Seca”, “Paulo Afonso” e “Asa Branca”.

Com o aumento das denúncias de tortura e mortes de vários ativistas, Gonzaga vai se desprendendo um pouco mais dos governantes e compõe com Humberto Teixeira “Salmo dos Aflitos”. No governo Geisel, em 1978, no seu disco “Dengo Maior”, a música foi incluída. Em 1980, gravou “Pra não dizer que falei das flores” de Geraldo Vandré.

Gonzagão e Gonzaguinha

Muitos se decepcionavam com a posição política de Luiz Gonzaga, incluindo seu filho Gonzaguinha. Durante anos, pai e filho tiveram um relacionamento difícil e distante. Somente, em 1981, os dois fizeram as pazes e proporcionam um grande momento histórico da música popular brasileira com a turnê “Vida de Viajante”, registrada no disco “Descanso em casa, moro no mundo”.

O Rei do Baião continua vivo

Em sua trajetória, Gonzaga dividiu o palco com grandes artistas como: Gal Costa, Sivuca, Elba Ramalho, Carmélia Alves, Marines, Nélson Gonçalves, Dominguinhos, Oswaldinho do Arcodeon, Genival Lacerda e Fagner.

Entre suas centenas de músicas gravadas, algumas são obrigatórias em qualquer coletânea do cantor: Baião, Xote das Meninas, Cintura Fina, Samarica Parteira, Qui nem Jiló, No meu Pé-de-Serra, Numa Sala de Reboco, Juazeiro, Assum Preto, Feira de Caruaru, Respeita Januário, Cheiro de Karolina, Olha pro Céu, Triste Partida, A volta da Asa Branca, Súplica Cearense, Paraíba, Aproveita Gente, Pagode Russo, Forró nº 1, Sanfoninha Choradeira, Nem se Despediu de Mim, Forró de Cabo a Rabo, ABC do Sertão, Riacho do Navio e Vozes da Seca.

Luiz Gonzaga continua vivo entre nós. Suas canções continuam animando festas juninas país afora. Não há festa de São João sem Gonzagão.

Os 20 anos da morte do “Rei do Baião” não silenciaram a sua sanfona.

fonte: site do pstu

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Ativista do Andes-SN rompe com PSOL e anuncia entrada no PSTU -

Da redação do Opinião Socialista -

• Um importante militante e reconhecido ativista anunciou, em Brasília, seu ingresso no PSTU. Rodrigo Dantas foi um dos fundadores do PSOL. Ele rompeu com este partido em 2007, durante os debates do 1º Congresso da organização. Nesta segunda-feira, 24 de agosto, ele se desfilia legalmente do PSOL, partido pelo qual foi candidato ao Senado pelo Distrito Federal nas eleições de 2006.

Dantas é doutor em filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professor de filosofia política e filosofia marxista da Universidade Nacional de Brasília (UnB). Foi secretário-geral (2002-2004) e presidente (2004-2006) da Associação dos Docentes da UnB (ADUnB). Atualmente, é o segundo vice-presidente do Andes-SN, entidade que representa os professores do ensino superior no país. Milita na Conlutas desde sua formação.

Abaixo, publicamos a carta de Dantas de ingresso no PSTU.


Carta de desligamento do PSOL e de filiação ao PSTU

Nesta carta anuncio publicamente as razões políticas de meu desligamento do PSOL e de meu ingresso no PSTU.

Apesar de abrigar muitos valiosos militantes socialistas em seu interior, o PSOL configurou-se como um partido semelhante ao PT e aos partidos historicamente oriundos da social-democracia, o que pode ser percebido em sua estrutura organizativa, sua prática, seu discurso, sua política de alianças, seu programa e sua estratégia política:

a) o PSOL construiu uma estratégia que hierarquiza a intervenção do partido conferindo centralidade às eleições e ao parlamento burguês, como fez o PT ao longo de sua trajetória histórica, mas agora num momento de refluxo e ceticismo, em que as instituições do poder burguês estão apodrecidas e cada vez mais desmoralizadas aos olhos da população. É neste contexto que se insere o projeto de reedição da Frente Popular, a ser organizada em torno da candidatura de Heloísa Helena à presidência; o apoio das correntes majoritárias do PSOL ao chavismo e a seus aliados latino-americanos no campo do nacionalismo burguês, elevados à condição de referência “antiimperialista” no enfrentamento com o capital; as alianças com partidos e setores “progressistas” da burguesia e o acolhimento de candidatos oportunistas, estranhos à militância socialista, numa espécie de “vale tudo” para ampliar as possibilidades eleitorais do partido; o financiamento de seus candidatos pela burguesia, como no caso do apoio dado pela Gerdau à candidata do partido à prefeitura de Porto Alegre; e a adaptação rebaixada, despolitizante e oportunista do discurso, exclusivamente centrado na denúncia da corrupção e nos eixos de um programa essencialmente nacional-desenvolvimentista.

b) o PSOL se configurou como uma federação de correntes de esquerda dissidentes do PT e que trazem deste partido seus usos, práticas, costumes e sua própria estrutura organizativa, baseada na disputa fratricida entre as correntes, norteada pela lógica “aparatista” da luta intestina pela ocupação dos espaços institucionais de poder no partido, no movimento de massas e no parlamento. Em seu funcionamento, não há nem democracia nem o necessário centralismo na intervenção política na luta de classes: sob o pretexto da liberdade de suas tendências internas, o PSOL se constrói burocraticamente na negociação e no acordo entre as cúpulas das correntes burocraticamente centralizadas, reproduzindo práticas, relações e estruturas de poder características do PT e da sociedade burguesa.

Mas o PSOL não é e nem poderá ser uma reedição do PT. O PSOL é uma ruptura bastante minoritária do PT, sem base social ou sindical expressiva e sem capacidade de construir hegemonia de massas; um partido “super-estrutural”, construído artificialmente em torno de alguns parlamentares egressos do PT, eleitos num momento de refluxo.

A avaliação crítica que aqui faço reflete um debate que não é estranho ao PSOL. Ele já estava presente nas teses defendidas pela AS, pela SR, pelo então MTL-DI e pela ARS no Congresso de 2007, depois das intensas polêmicas travadas contra o giro à direita em 2006. Neste processo de luta política, da aproximação entre as correntes citadas surgiu um bloco de esquerda no PSOL como tentativa de reunir as correntes que tinham divergências políticas e programáticas com o bloco hegemônico no partido. Participei ativamente desta disputa interna até meados de 2007, alinhado com os companheiros da AS. Nosso debate não foi capaz de impedir o giro à direita do partido, resultado da consolidação do bloco hegemônico (MES-MTL-APS) na direção do PSOL. Compreendendo a impossibilidade de que o PSOL viesse a se constituir como uma alternativa socialista e revolucionária capaz de disputar com o PT e a CUT a hegemonia do movimento de massas, meu afastamento do partido se materializou em 2007, antes da realização do seu 1º Congresso.

A contradição política e programática entre as correntes de esquerda do PSOL (AS, ARS, MTL-DI e SR, e também CST e C-SOL) e seu bloco hegemônico (MES-MTL-APS), que se tornou cada vez mais evidente desde então, tende apenas a se aprofundar no próximo período. Enquanto uma parte minoritária do partido ainda luta por um programa socialista e pela construção de uma alternativa de organização para o movimento – a CONLUTAS – e de uma frente de esquerda classista, a maioria da direção renunciou ao socialismo em nome da reedição de uma estratégia política meramente eleitoral. Embora sejam bravos guerreiros os que lutam cotidianamente para colocar o PSOL no caminho das lutas e do socialismo, sabemos todos que esta é uma luta perdida. O bloco hegemônico sairá vitorioso novamente no congresso de 2009 e aprofundará o rumo reformista do PSOL.

Depois da experiência com o PT, a CUT e o governo Lula, evidenciados os limites da estratégia da frente popular e do governo de coalizão com a burguesia, tornou-se urgente a construção histórica de uma alternativa socialista e revolucionária para o Brasil. Em sua crescente destrutividade, o capitalismo é hoje um modo de vida e de produção que já não pode prosseguir por muito mais tempo sem ameaçar as próprias condições de existência da humanidade. A experiência histórica nos tem demonstrado que nos marcos do capitalismo não será possível preservar as bases naturais da vida, erradicar a pobreza, a miséria e a fome, socializar a riqueza socialmente produzida, democratizar o poder político e colocar o imenso desenvolvimento das forças produtivas a serviço da satisfação das necessidades humanas historicamente desenvolvidas e da criação de tempo livre para todos os indivíduos como verdadeira medida do valor e objetivo estratégico da sociedade. É neste contexto que o desafio histórico do socialismo deve ser mais uma vez recolocado na ordem do dia.

Desde 2004 militei na construção da CONLUTAS e tive assim a oportunidade de um contato mais próximo com o PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado). A defesa coerente da via da ruptura revolucionária, da independência de classe, de um partido democraticamente centralizado para enfrentar o capital, do internacionalismo, do marxismo como referencial teórico e político e da afirmação estratégica do socialismo como projeto para a humanidade foram decisivos para que amadurecesse minha decisão de me desfiliar do PSOL e me filiar ao PSTU. No processo de reorganização da classe trabalhadora, o PSTU é hoje a principal base de que dispomos para a construção de um grande partido de estratégia socialista, marxista, internacionalista e revolucionária. Nele há lugar para todos os militantes socialistas, sejam eles do PSOL, independentes ou de outras organizações, que lutam para construir uma alternativa socialista e revolucionária para o Brasil.

Rodrigo Dantas
Brasília, agosto de 2009

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Porque tem que tocar Raul

Em Uberaba/MG, por questões de saúde pública, leia-se epidemia da gripe A, foi adiada apresentação que meu amigo Edson Santana faria com seu Raul Cover, em homenagem a Raul Seixas, em 29 de agosto. Uma nova data está sendo estudada para o evento, provavelmente em outubro. Assim que houver uma definição aviso aqui.

Por ora, posto um texto, do Opinião Socialista, jornal que sempre tenho para vender, sobre o mago do Rock Raulzito!

Abraços,

Adriano Espíndola

Porque tem que tocar Raul

WILSON H. SILVA

da redação do Opinião Socialista e

membro da Secretaria Nacional de Negros e Negras dos PSTU

Há 20 anos, em 21 de agosto de 1989, o “maluco beleza” Raul Seixas embarcou em sua última viagem. Nascido em 1945, em Salvador, o cantor e compositor continua a impor sua marcante presença no cenário musical brasileiro. Também segue conquistando fãs entre milhões de jovens que sequer haviam nascido quando ele morreu vítima de uma parada cardíaca provocada pelo mau funcionamento de um pâncreas há muito castigado pelo álcool e uma razoável lista de outras substâncias.

Figura exemplar de uma geração que tentou traduzir em arte os tumultuados anos que vão do final dos 1960 a meados da década de 1980, Raulzito tornou-se o mito que é, até hoje, ao saber combinar, como poucos, letras poéticas, irreverência e criatividade com uma postura literalmente “anarquista” diante da vida. Tudo isso embalado em sonoridades que, mergulhadas no melhor do rock e do blues, sempre dialogaram com a cultura brasileira, seja a enraizada nas tradições nordestinas, seja aquela que brota dos meios urbanos.

É exatamente por isso que, em pleno século 21, é praticamente impossível que uma noitada num boteco com música ao vivo, uma festa ou um show que reúna gente “antenada com o mundo” possa acabar sem que alguém encha os pulmões para gritar: “Toca Raul”. A frase é a tradução espontânea dos mesmos desejos que alimentaram a alegria, a poesia e a beleza da obra de Raulzito.

Desobediência como caminho para a criatividade

Radical no melhor sentido da palavra, Raul Seixas era uma espécie de “menestrel” fora do tempo e do espaço. Comportando-se como uma daquelas figuras da Idade Média que recolhiam histórias das margens da “história oficial” e as transformavam em poesias cheias de ironia, sensualidade e visão crítica, o cantor repetia à exaustão que tudo o que criava era resultado de sua convicta postura de “desobediência” diante da lógica do mundo.

Nascido numa capital nordestina, criado ao som do rádio e dos sucessos de Luiz Gonzaga e mergulhado (através de seu pai ferroviário) no universo dos repentes e do cordel, Raul cresceu para se transformar em roqueiro e “imitador consciente” de Elvis Presley.

Figura “esquisita” na capital baiana – com seu cabelo banhado em “brilhantina”, jeans agarrado à pele e casacos de couro nada adequados ao sol de Salvador –, o “showman” Raul foi, durante a infância (e no decorrer da vida fora dos palcos), um sujeito tímido, dado mais à leitura (ele sonhava em ser escritor) do que às brincadeiras de rua e baladas.

Ainda bastante jovem, juntou-se com amigos numa série de bandas que tiveram vida curta, mas foram marcantes para sua formação, como “Os Relâmpagos do Rock” e “Raulzito e os Panteras”, formadas ainda na década de 1960, e que o aproximaram da turma “bem comportada” da Jovem Guarda, com “roquinhos” um tanto insossos como “Doce, doce, doce amor”. Nessa época, foi para o Rio de Janeiro.

A figura de Raul, no entanto, dificilmente poderia encontrar seu lugar em meio a artistas como Jerry Adriani, Roberto Carlos e os demais representantes da Jovem Guarda. Raulzito também não poderia ficar imune à onda psicodélica e rebelde que varria o mundo nos arredores de 1968.

Com sua típica “desobediência”, o cantor, literalmente, tomou de assalto o estúdio da empresa fonográfica que o estava contratando para gravar seu segundo LP, “Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10”, cujos títulos e sonoridades antecipam seus maiores sucessos dos anos 1970.

Apesar de a distribuição do disco ter sido censurada pela empresa, Raul chegou ao grande público com seu estilo em 1972, quando participou do 7° Festival Internacional da Canção, promovido pela Globo, com duas músicas que marcaram época: a deliciosa mistura de rock e baião “Let me sing” e a enlouquecida “Eu sou eu Nicuri é o Diabo”.

Metamorfose ambulante

Sempre atento ao mundo ao seu redor, Raul emplacou, no ano seguinte, um de seus maiores e mais fantásticos sucessos, “Ouro de tolo”, uma letra em que aspectos autobiográficos misturam-se com a mais debochada crítica à ditadura, seu “milagre” econômico e à censura.

Foi nesse mesmo ano que saiu o disco “Krig-Ha, Bandolo”, com uma excepcional concentração de músicas inesquecíveis, como “Metamorfose ambulante”, “Mosca na sopa”, a própria “Ouro de tolo” e “Al Capone”. Todas elas transformadas em verdadeiros hinos de uma juventude que queria gritar por liberdade.

Diversas em ritmos e temas, todas as músicas, no entanto, têm uma coisa em comum, típica da obra de Raulzito: a ideia de “refazer-se”, “reinventar-se” a cada momento, fugir das regras estabelecidas, questionar tudo e todos. À beira muitas vezes de um misticismo meio alucinado (que o aproximou da hoje inglória figura de Paulo Coelho) – praticado por alguém que sempre dizia que “não existe Deus, senão no homem” – e com uma riqueza poética poucas vezes encontrada na música brasileira, as músicas ainda tinham a capacidade de conquistar os públicos mais diversos.

Um sonho sonhado junto é realidade

Vivendo numa sociedade repressiva e “careta”, que o levou muitas vezes a embates com o sistema (como na sua primeira prisão, em 1974, pelo Dops, e o breve exílio nos EUA), podemos dizer que a grande contribuição de Raul para a juventude da época foi exatamente a possibilidade de “sonhar” um outro mundo.

Um sonho um tanto lisérgico, psicodélico e anarquista, mas um sonho que, como o próprio cantor dizia, deveria e merecia ser sonhado, pois, nas suas palavras: “Somente o sonho sonhado sozinho é um sonho; um sonho sonhado junto é realidade”.

Sonho traduzido em canções posteriores como “Sociedade alternativa” e a memorável “Gita” que, quando lançada, praticamente impôs a figura de Raul ao mercado ao vender nada menos do que 600 mil cópias.

Homem de muitos e destrambelhados amores, sujeito que nunca teve medo de “tentar outra vez” e dono de uma cultura digna de quem “nasceu há dez mil anos atrás”, Raul Seixas partiu deixando uma obra que, pela sua multiplicidade, é capaz de embalar os mais diversos momentos da vida de seus fãs.

Fruto de sua época, também não foi “santo”, muito menos inquestionável. Afinal, em meio a preciosidades como “O dia em que a Terra parou” e “Aluga-se” (transformada em hino contra o FMI e o pagamento da dívida externa), Raulzito também deixou umas tantas bobagens, como por exemplo, o “intragável” e homofóbico “Rock das Aranhas”.

Derrapadas à parte, o que ficou de sua obra depois de três décadas de sua ausência é a figura do “mago” irreverente, do “maluco beleza” que, sem dúvida, sempre que toca deixa nossa vida mais legal.

Fonte: Jornal Opinião Socialista, site do PSTU

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

O assassinato de Leon Trotsky


Jeferson Choma
da redação do Opinião Socialista


No último 20 de agosto, completaram-se 69 anos do atentado que tiraria a vida de Leon Trotsky por um agente do stalinismo. O assassinato não foi algo inesperado. Era parte de um esforço em eliminar qualquer ligação entre os dirigentes da Revolução de Outubro e as gerações mais jovens

Leon Trotsky lia atentamente um texto entregue a ele por seu assassino. De repente, um golpe violento na cabeça dado pelas costas com uma picareta de alpinista o jogou ao chão. Mesmo ferido mortalmente, ele se agarrou ao assassino enquanto seus guarda-costas chegavam. Gritou para que não o matassem, para que se descobrisse o mandante do crime

Era o dia 20 de agosto de 1940. Trotsky foi levado ao hospital ainda lúcido. Em suas últimas palavras, deixou a mensagem de otimismo a seus camaradas em todo o mundo: “Estou próximo da morte, devido ao golpe de assassino político... Por favor, digam aos nossos amigos... Estou certo... da vitória da IV Internacional... continuem”.

Antes de entrar na sala de cirurgia, se despediu carinhosamente de Natasha, sua companheira de muitos anos. Entrou em coma logo depois e morreu no dia seguinte.

O assassino
Ramon Mercader, o nome verdadeiro do assassino, era um agente da GPU, serviço de segurança russo antecessor da KGB. Foi um crime longamente planejado pelo stalinismo. Mercader viajou para a URSS em 1937, lá permanecendo por seis meses. Depois, no México, conseguiu se aproximar pessoalmente de uma secretária de Trotsky, Silvia Ageloff.

A partir daí, se apresentou ao velho revolucionário como um simpatizante de suas idéias. No dia do assassinato, entregou um texto a Trotsky para que ele opinasse. Aproveitando-se de sua distração, assassinou-o pelas costas.

Depois de sair da prisão, em 1961, Mercader foi para URSS, onde foi condecorado com a medalha de “Herói da União Soviética”.

Stalin tenta cortar o fio de continuidade do marxismoO assassinato de Trotsky não foi algo inesperado. Era parte de uma política consciente do stalinismo de eliminar qualquer ligação entre os velhos dirigentes da Revolução Russa de 1917 com as gerações mais jovens. Era a tentativa de cortar o fio de continuidade do marxismo revolucionário num momento em que se preparava, novamente, uma guerra mundial, com suas conseqüências revolucionárias. Existia a possibilidade de se construir uma alternativa de direção revolucionária ao redor do velho bolchevique russo.

Trotsky pertenceu a uma geração de revolucionários sem precedentes na história. Uma geração que deu respostas teóricas e políticas desde questões relacionadas à organização do partido revolucionário até a construção do poder de Estado pela classe operária.
Ele não foi apenas um dos principais dirigentes da Revolução Russa ou o organizador do Exército Vermelho, como é costumeiramente lembrado. Foi o primeiro a identificar o perigo da crescente burocratização do partido e do Estado operário soviético, que ameaçava as conquistas da Revolução de Outubro.

Dedicou sua vida, a partir da morte de Lenin, a uma luta prática e teórica para libertar o movimento operário internacional da dominação stalinista. Lançou-se numa batalha sem tréguas contra a burocratização e em oposição à desastrosa política da burocracia dirigida por Stalin.

Logo após a ascensão do stalinismo, o revolucionário russo organizou a Oposição de Esquerda e se opôs radicalmente à teoria do “socialismo num só país” defendida por Stalin. Trotsky sustentava que era impossível construir o socialismo limitado às fronteiras nacionais de um país economicamente atrasado como a Rússia. Como Lenin, acreditava que a Revolução Russa era só o princípio da revolução socialista mundial.

Trotsky dedicou os últimos anos de sua vida a construir uma alternativa à desastrosa política dos partidos comunistas, intervindo nos processos revolucionários. Realizou o que em sua própria opinião era “o trabalho mais importante” de sua vida: a construção da IV Internacional.

A perseguição implacável do stalinismo
Em 1927, Trotsky foi expulso do partido, destituído de suas funções no Estado Soviético e, no início de 1928, deportado para o Cazaquistão. No ano seguinte, Trotsky foi banido da URSS e sua condição de cidadão soviético foi cassada.

Trotsky era um homem sem nacionalidade ou cidadania. Começava, assim, uma longa jornada de exílios e expulsões que iniciou na Turquia, passou pela Noruega e pela França, até chegar, finalmente, ao México, em 1937, único país que aceitou o exílio do revolucionário russo.

Quatro anos antes do assassinato, tiveram início os famosos Processos de Moscou contra dirigentes bolcheviques. Neles, foram fuzilados velhos colaboradores de Lenin, como Zinoviev, Kamenev, Bukharin, Antonov-Ovseenko, entre outros. Durante os processos, o próprio Trotsky foi condenado à morte por ser considerado um suposto “agente sabotador do imperialismo”. Nesse período, milhares de ativistas da Oposição de Esquerda já haviam sido atacados, assassinados, presos ou deportados.

A campanha de terror tinha o objetivo de suprimir toda oposição genuinamente socialista contra a usurpação do poder feita pelo stalinismo. O alvo maior do stalinismo era atacar os que estavam junto com Trotsky. Em fevereiro de 1937, Leon Sedov, filho de Trotsky, foi morto em Paris. Às vésperas da fundação da IV, Rudolf Klement, secretário de organização da nova Internacional, foi assassinado, e o projeto de estatutos foi roubado.

Em 24 de maio de 1940, se deu a primeira tentativa de assassinato de Trotsky. Um bando de assassinos stalinistas, liderados pelo pintor David Siqueiros disparou rajadas de balas contra a casa do revolucionário que escapou do atentado.
Na segunda tentativa, conseguiram seu objetivo. Stalin havia, finalmente, liquidado o último dos grandes dirigentes bolcheviques da Revolução de Outubro.

O stalinismo foi julgado pela história
O stalinismo procurava desarticular a recém-fundada IV Internacional. Possui um grande significado o fato de Stalin, que naquele momento dirigia um Estado operário e tinha influência em partidos de massas de todo o mundo, ter de recorrer a um assassinato pelas costas de um velho de 61 anos.

Hoje, o aparato stalinista desabou. Mesmo o que resta dos partidos stalinistas rejeita a vinculação com Stalin. Por outro lado, a IV Internacional sobreviveu e está sendo reconstruída. Obviamente, o assassinato do principal dirigente da Internacional foi uma perda colossal.

Mesmo assim, o stalinismo não conseguiu suprimir o legado teórico e político do revolucionário russo. Suas obras constituem uma extraordinária contribuição para a teoria marxista. Um legado para as novas gerações de revolucionários que mantêm viva a sua luta em defesa do socialismo e da IV Internacional.