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Sejam bem vindos. O objetivo deste Blog é informar as pessoas sobre os mais variados assuntos, os quais não se vê com frequência nas mídias convencionais, em especial acerca dos direitos e luta da juventude e dos trabalhadores, inclusive, mas não só, desde o ponto de vista jurídico, já que sou advogado.

sábado, 10 de julho de 2010

Trinta anos sem Vinícius de Morais

Amigos e amigas,

O último 09 de julho marcou os 30 anos da morte do grande Vinicius de Morais. Releiam matéria publicada, em 2005,  pelo Opinião Socialista, sobre o “poetinha”.

Adriano Espíndola

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Vinicius, velho, saravá”

O documentário “Vinicius – quem pagará o enterro e as flores se eu morrer de amores?” é quase uma ficção, quase uma peça teatral, quase um show, quase um poema. Dirigido por Miguel Faria Jr. e produzido por Suzana de Moraes, filha do poeta, o filme, atualmente em cartaz nos cinemas, mostra como se constrói esse Vinicius hoje conhecido e amado por velhas e novas gerações.

O poeta Ferreira Gullar afirma em seu depoimento que “pouco a pouco, ele vai se convertendo em Vinicius de Moraes”. O filme mostra como o Vinicius jovem, poeta parnasiano, estudante de Direito, diplomata engravatado, abandona essas formalidades e se transforma no músico popular, boêmio, que abre as portas de sua casa para que entrem os amigos, o uísque, o riso, a música. Miguel reafirma essa transformação de Vinicius no site oficial do filme: “Aos 24 anos ele era um integralista e fazia sonetos parnasianos. Aos 60 anos era um hippie desbundado.

Vinicius viveu o raro privilégio de ficar jovem com a idade”. A aproximação com a música popular e com a cultura negra lhe rendeu o apelido de Poetinha, pois os críticos o consideravam um poeta de menor importância. A História encarregou-se de reverter esse conceito.

O formato do filme relembra os primeiros shows de Vinicius. Sobre um palco à meia-luz para uma pequena platéia fictícia, Camila Morgado e Ricardo Blat declamam poemas e cartas e contam a história de Vinicius. Entre as aparições dos atores e os depoimentos e imagens, apresentam-se nesse mesmo palco artistas como Yamandú Costa, Adriana Calcanhoto, Olívia Byington, Mariana de Moraes, Mart’Nália e Mônica Salmaso cantando, reinventando e remoçando as composições do grande Poetinha. O documentário também apresenta depoimentos de Chico Buarque, Ferreira Gullar, Carlos Lyra, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Toquinho, entre outros grandes amigos de Vinicius. E tudo no filme flui como numa conversa de amigos em mesa de bar.

O branco mais negro do Brasil
Alguns momentos revelados são marcantes na vida de Vinicius e na própria história da música e da arte brasileira. Um deles foi quando Vinicius, em 1956, lançou na peça “Orfeu da Conceição” um diálogo entre o erudito e o popular, cuja adaptação para o cinema, “Orfeu do Carnaval”, dirigida por Marcel Camus, ganhou o Palma de Ouro no Festival de Cannes em 1959 e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. “Orfeu da Conceição” também foi o início de sua parceria com Tom Jobim.

Outro momento retratado pelo filme é o lançamento do disco “Canção do amor demais”, em 1958, que trazia a música “Chega de Saudade”. No disco, as músicas de Tom Jobim e Vinicius são tocadas por João Gilberto e cantadas por Elizete Cardoso. “Chega de saudade”, como explica Chico Buarque no filme, é algo diferente de tudo antes visto. Nascia a Bossa Nova, que mesclava elementos do samba e do jazz.

O documentário mostra como, em 1962, ele conhece Baden Powell. A partir daí, Vinicius afasta-se da Bossa Nova e envereda-se pelos afro-sambas, compondo em parceria com Baden canções como “Canto de Ossanha” e “Berimbau”.

Em uma das cenas de arquivo mostradas no filme, Elizete Cardoso canta “Eu não existo sem você” acompanhada por João Gilberto; no filme “Pista de Grama”. Em outra, aparece o próprio Vinicius cantando seu “Canto de Ossanha”, no filme “Les Carnets Brésiliens”, de Pierre Kast. Mas o melhor fica por conta dos depoimentos de amigos, com detalhes de como Vinicius ria com todas as partes do corpo, ou sobre como o uísque era seu companheiro, sobre como ele se apaixonava perdidamente tantas e tantas vezes, pois, como conta Tônia Carrero, “ele precisava do precipício da paixão”, e essa era a fonte de seus versos.

O poeta disse Não
Muitas coisas não cabem nas duas horas de filme. Cada espectador poderá se lembrar, por exemplo, de poemas preferidos que poderiam estar lá. Isso não diminui o filme, mas mostra que esse poeta é maior que qualquer filme.

Uma das ausências é o fato de que Vinicius também foi perseguido pela ditadura militar brasileira, como outros artistas da época. Após a promulgação do AI-5, em 1968, Vinicius é aposentado compulsoriamente da carreira diplomática. Em 1970, inicia sua parceria com Toquinho, com quem viaja para a Itália em 1971. Eles chegam a retornar ao Brasil e fazem alguns shows, mas acabam ficando muito mais tempo na Europa nos anos seguintes, por causa das perseguições do regime militar.

Outra coisa importante foi que, em seu retorno ao Brasil, Vinicius participa do 10 de Maio de 1979 no ABC paulista, a convite do então líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva. O poema apresentado por ele é o belo “Operário em Construção”. Sobre aquela leitura, Gilda Mattoso, uma das viúvas do poeta, em uma carta apresentada no encarte de um CD em homenagem a Vinicius, lembra: “poucas vezes senti você tão cheio de emoção e orgulho como naquela longínqua tarde quente, lendo sua poesia para a multidão respeitosa e comovida de trabalhadores”. Vinicius não viveu para ver o que se tornaria o mundo, o Brasil e, o agora presidente, Lula.

Melhor viver do que ser feliz
Miguel Faria Jr. não pretendia fazer algo biográfico. Ele se concentra na poesia e na personalidade do poeta, fala com naturalidade e sem medo sobre as mulheres e a embriaguez de Vinicius. Mostra, sobretudo, como ele foi um artista que cantou a vida, pois teve a audácia de vivê-la. Ele mesmo dizia que “é melhor viver do que ser feliz”.

Dos amigos que aparecem na tela prestando homenagens, relembrando momentos, fica a imagem do Vinicius companheiro, apaixonado e apaixonante. E a platéia sai do cinema se achando amiga de Vinicius, com o mesmo sentimento de Toquinho e Chico Buarque ao escreverem, em canção dedicada ao amigo: “A vida é pra valer, a vida é pra levar. Vinicius, velho, saravá!”.

Fonte: site do pstu 

quarta-feira, 7 de julho de 2010

ECONOMIA- Nobel de Economia prevê uma terceira depressão mundial

Recuperação da economia parece ter seus dias contados

por Diego Cruz

A crise econômica internacional não terminou. Os últimos meses mostraram uma relativa recuperação, mas ela não é sustentável e novos sinais de queda já começam a aparecer. Não é mais um artigo catastrofista de esquerda prevendo mais um fim do capitalismo. É, antes, a percepção cada vez mais forte do mercado financeiro sobre o futuro da economia.

Isso se reforçou com os últimos indicadores mostrando uma desaceleração no mercado de trabalho nos Estados Unidos, assim como a queda no ritmo da recuperação econômica da Ásia e o aprofundamento da crise na Europa. A recente reunião do G20 e a polêmica colocada: a necessidade de estímulos fiscais versus plano de ajustes, mostram que a crise está longe do fim, chega a um impasse e mostra sinais de recaída para o futuro próximo.

Uma crise estrutural

A crise se expressou inicialmente em 2008 com o estouro do mercado imobiliário subprime, nos EUA, o mercado de financiamento de casas voltado ao público de baixa renda. A implosão desse setor trouxe à tona uma série de complexos mecanismos financeiros, como os tais derivativos, revelando que o período de “exuberância irracional” dos mercados nos últimos anos foi sustentado por um esquema semelhante à fraude da pirâmide.

A falência do centenário banco Lemanh Brothers, no final do mesmo ano levou o pânico desenfreado aos mercados e governos em todo o mundo. Os governos, com a Casa Branca à frente, apressaram-se em aprovar pacotes bilionários de ajuda aos bancos e empresas. Durante todo o ano de 2009, foram trilhões despejados de forma indiscriminada nos mercados financeiros como forma de conter a recessão. A tese da crise restrita à esfera financeira entrava em descrédito na medida em que uma profunda recessão se desenhava no planeta.

Os pacotes articulados pelos governos conseguiram conter a recessão e impedir uma depressão mundial. Mas mostraram-se financeiramente inviáveis, colocando países, principalmente os da Europa, à beira da falência. De tal forma que a fase agora é a da contenção dos gastos. O clamor pelos pacotes de ajuda foi substituído pela necessidade do ajuste fiscal e os cortes de gastos, passando a conta da fatura para os trabalhadores.

Apesar dos impasses entre EUA e Canadá e Europa na mais recente reunião do G20, a orientação para os países é a busca pelo “equilíbrio fiscal”. Ou seja, a política do Imperialismo agora é, sem deixar de lado os pacotes de estímulos, estender o ajuste fiscal que está provocando uma verdadeira rebelião social na Europa para o restante do mundo. Significa explicitar ainda mais a transferência de recursos públicos para os mercados.

Tempo de cortar

O grande problema é que os pacotes estatais de estímulo não foram suficientes para impulsionar o investimento privado. Se se cessam, a recuperação também para. Segundo o Instituto Internacional de Finanças, uma organização que reúne grandes bancos de todo o mundo, as políticas de ajuste fiscal devem reduzir o crescimento econômico dos países desenvolvidos de 2,5% para 1,8% em 2011.

Ao todo, os pacotes serão responsáveis pela redução de 1,25% no crescimento mundial no próximo ano. Isso se refletirá nos chamados “países emergentes”. Segundo o IIF, o Brasil crescerá 7,5% em 2010 e no ano seguinte não deve passar dos 4,4%. Por isso, a instituição dá como terminada a fase de rápida expansão dos emergentes que ocorreu nos últimos meses.

Futuro incerto

Nos Estados Unidos entre maio e junho foram criados 13 mil empregos quando eram esperados pelo menos 50 mil. Em contrapartida, 125 mil postos foram extintos. Já o mercado imobiliário se retrai à medida que o governo extingue sua política de estímulo. Os últimos 12 meses de acelerado crescimento refletiu no país a reposição dos estoques, vazios durante o período mais agudo da crise. O ritmo agora tende a diminuir, e o fim dos estímulos vai aprofundar essa desaceleração num momento em que a economia não consegue andar com as próprias pernas, colocando a perspectiva de uma nova recessão.

Já na Europa, cujo índice de desemprego na zona do Euro chega a 10%, os planos de ajustes vão aprofundar ainda mais a crise social que já explode em países como Grécia e Espanha. A Alemanha, maior economia e motor da União Europeia, detalhou seu plano de cortes nesse dia 5 de junho. O governo de Angela Merkel vai cortar o equivalente a R$ 171 bilhões em quatro anos, em uma série de medidas que inclui a demissão de 15 mil servidores públicos.

Tal cenário fez com que o prêmio Nobel de Economia e colunista do New Iork Times, Paul Krugman previsse uma nova fase recessiva e, mais que isso, uma nova depressão equivalente a 1929. Na verdade, o economista compara a atual crise à “longa depressão” de 1873, um período marcado por fortes instabilidades e recaídas. Para o colunista, essa terceira depressão do capitalismo vai ser o resultado da política econômica recessiva imposta pelos governos, que custará algo como “10 milhões de empregos”.

Krugman vem causando controvérsias com suas previsões consideradas catastrofistas. Os defensores dos planos de ajustes argumentam que o equilíbrio das contas públicas vai automaticamente gerar “confiança” nos mercados e ajudar a impulsionar novamente a economia. A realidade, porém, é que uma nova recessão, ou melhor, uma nova fase da crise está cada vez mais clara no horizonte.

E o Brasil?

Como ficou mais do que claro no final de 2008, o Brasil não é uma ilha. Se o país conseguiu evitar uma longa recessão através de pesados subsídios fiscais a bancos e empresas, ajudou para isso a rápida recuperação da demanda da China por minérios e demais commodities a volta do crédito.

O que está ficando mais certo, porém, é que o país não contará com as mesmas condições externas que tornaram possível o crescimento econômico dos últimos anos, apesar da política neoliberal. A demanda por commodities diminuirá, assim como o crédito e os investimentos diretos que, nos últimos meses, cobriram o déficit em conta corrente (prejuízo do que saiu e entrou no país).

Uma nova crise se desenha para o futuro e o país não terá as condições que o possibilitaram a retomar o crescimento. E também não terá Lula, ou seja, ficará mais difícil conter o movimento de massas na hora de impor planos de ajuste fiscal e reformas.

Diego Cruz, jornalista e especialista em Economia do Trabalho pela Unicamp, colabora com diversos veículos, como o jornal Opinião Socialista

Fonte: site do PSTU