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Sejam bem vindos. O objetivo deste Blog é informar as pessoas sobre os mais variados assuntos, os quais não se vê com frequência nas mídias convencionais, em especial acerca dos direitos e luta da juventude e dos trabalhadores, inclusive, mas não só, desde o ponto de vista jurídico, já que sou advogado.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

UM POUCO MAIS SOBRE MARKETING JURÍDICO ou NÓS ADVOGADOS DEVEMOS SER EMPRESÁRIOS OU TRABALHADORES ÉTICOS NA BUSCA POR MELHORIA DE VIDA

Aos meus leitores não do meio jurídico, peço licença para publicar esse texto no Defesa, pois ele trata de advocacia. Ele tem dois títulos, pois não consegui definir-me por apenas um deles.

Adriano.

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Nessa semana do advogado, a OAB de Uberaba promoveu, no dia 06.08.2013,  um palestra sobre um tema bastante controvertido aos advogados, o marketing jurídico.

Participei do referido envento, cujo o palestrante foi o Dr. José Jerônimo Reis, de Ribeirão Preto / SP.

Sem quere polemizar muito, até mesmo porque não fiquei para parte dos debates, discordo da visão do referido palestrista, no sentido de que o advogado moderno não pode ser mais o advogado romântico, mas sim o advogado empresário.

Ora, não discordo da necessidade de saber utilizar o marketing no meio jurídico, mas essa concepção de advogado empresário  preocupa-me bastante , pois o romantismo da profissão é que evita a sua banalização e ainda, a exploração desmedida de colegas de profissão e dos nossos clientes.

Vejam bem: não sou contra que se busque o lucro por meio do exercício da advocacia.  Ao contrário, como qualquer outro trabalhador, vivemos da força do nosso trabalho e temos que saber explorá-lo, de forma que ele nos garanta um melhor resultado, uma vida digna e confortável.

Portanto, não precisamos ser “empresários”  para buscar a otimização de nossos escritórios. Como qualquer outro trabalhador  que ganhe a vida honestamente ( pois é isso que somos e não empresários), devemos nos aperferçoar cada vez mais e nos destacar nesse mercado que é extremamente concorrido.

Então, falar em lucro, pura e simplesmente, sem pautar o dever ético, em advogado empresário, para mim é algo de todo equivocado, pois não são poucas as empresas buscam o aumento do lucro a qualquer custo, explorando cada vez mais os seus trabalhadores e consumidores. Nós advogados sabemos bem nisso. Essa visão de advogado empresário, me lembra e muito a das bancas de advocacia estaduniense, que para mim é o máximo de exploração de advogados por advogados, ou seja, pelos advogados proprietários sobre os advogados não proprietários das mesmas.

Com o devido respeito, mesmo consciente de que para toda a regra há excessões, o empresariado não pode ser um paradguima para a advocacia, sob pena desta perder não o seu romantismo, mas sim sua dignidade! Se sem visão empresarial já tem advogado agindo de forma desleal com colegas e clientes, imagem se ela vier a predomiar?!

Finalizando, dizendos devemos sim valer-mos do marketing jurídico, mas com a visão de que somos artesões da justiça , que se organizam para trazer qualidade de vida para si , sua família, seus colegas de trabalho e profissão e  não como empresários que, via de regra, gananciosos, estão ai explorando trabalhadores e consumidores cada dia mais!

Cliquem aqui, para acessar pagína com um podcast (entrevista “radiofonica”) com uma ótima entrevista sobre maketing jurídico, que complementa e aprofunda as dicussões da palestra de ontem.

Abraços,

Adriano Espíndola Cavalheiro

Operário do Direito, romanticamente.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

A equipe de futebol que preferiu morrer a perder

Por Dr. Osmar de Oliveira

Time Star - modelo

A história do futebol mundial tem milhares de episódios emocionantes e comovedores, mas seguramente nenhum seja tão terrível como o protagonizado pelos jogadores do Dinamo de Kiev nos anos 40. Os jogadores jogaram um partida sabendo que se ganhassem seriam assassinados e no entanto, decidiram ganhar. Na morte deram uma lição de coragem, de vida e honra, que não encontra, por seu dramatismo, outro caso similar no mundo. Para compreender sua decisão, é necessário conhecer como chegaram a jogar aquela decisiva partida, e por que uma simples partida de futebol apresentou para eles o momento crucial de suas vidas.

Tudo começou em 19 de setembro de 1941, quando a cidade de Kiev (capital ucraniana) foi ocupada pelo exército nazista e os homens de Hitler aplicaram um regime de castigo impiedoso e arrasaram com tudo. A cidade converteu-se num inferno controlado pelos nazistas, e durante os meses seguintes chegaram centenas de prisioneiros de guerra, que não tinham permissão para trabalhar nem viver nas casas, assim todos vagavam pelas ruas na mais absoluta indigência. Entre aqueles soldados doentes e desnutridos, estava Nikolai Trusevich, que tinha sido goleiro do Dinamo.

Kiev totalmente destruida

Kiev totalmente destruida

Josef Kordik, um padeiro alemão a quem os nazistas não perseguiam, precisamente por sua origem, era torcedor fanático do Dinamo. Num dia caminhava pela rua quando, surpreso, olhou um mendigo e de imediato reconheceu seu ídolo: o gigante goleiro Trusevich. Ainda que fosse ilegal, mediante artimanhas, o comerciante alemão enganou aos nazistas e contratou o goleiro para que trabalhasse em sua padaria. Sua ânsia por ajudá-lo foi valorizada por Trusevich que agradecia a possibilidade de se alimentar e dormir debaixo de um teto. Ao mesmo tempo, Kordik emocionava-se por ter feito amizade com a estrela de sua equipe.

Na convivência, as conversas sempre giravam em torno do futebol e do Dinamo, até que o padeiro teve uma idéia genial: pediu a Trusevich que em lugar de trabalhar como ele, amassando pães, se dedicasse a buscar o resto de seus colegas. Não só continuaria lhe pagando, senão que juntos podiam salvar os outros jogadores. O arqueiro percorreu o que restara da cidade devastada dia e noite, e entre feridos e mendigos foi descobrindo, um a um, a seus amigos do Dinamo. Kordik deu trabalho a todos, se esforçando para que ninguém descobrisse a manobra. Trusevich encontrou também alguns rivais do campeonato russo, três jogadores da Lokomotiv, e também os resgatou. Em poucas semanas, a padaria escondia entre seus empregados uma equipe completa.

O goleiro Trusevich

O goleiro Trusevich

Reunidos pelo padeiro, os jogadores não demoraram em dar o passo seguinte, e decidiram, alentados por seu protetor, voltar a jogar. Era, além de escapar dos nazistas, a única coisa que sabiam fazer bem. Muitos tinham perdido suas famílias nas mãos do exército de Hitler e o futebol era a última sombra mantida de suas vidas anteriores. Como o Dinamo estava enclausurado e proibido, deram um novo nome para aquela equipe. Assim nasceu o FC Start, que através de contatos alemães começou a desafiar a equipes de soldados inimigos e seleções formadas no III Reich.

Em sete de junho de 1942, jogaram sua primeira partida. Apesar de estarem famintos e cansados por terem trabalhado toda a noite, venceram por 7 x 2. O próximo adversário foi a equipe de uma guarnição húngara, ganharam de 6 x2. Depois meteram 11 gols numa equipa romena. A coisa ficou séria quando em 17 de julho enfrentaram uma equipe do exército alemão e golearam por 6 x 2. Muitos nazistas começaram a ficar chateados pela crescente fama do grupo de empregados da padaria e buscaram uma equipe melhor para ganhar deles. Trouxeram da Hungria o MSG com a missão de derrotá-los, mas o FC Start goleou mais uma vez por 5 x 1, e mais tarde, ganhou de 3 x 2 na revanche.

O cartaz da revanche

O cartaz da revanche

Em seis de agosto, convencidos de sua superioridade, os alemães prepararam uma equipe com membros da Luftwaffe, o Flakelf, que era uma grande time, utilizado como instrumento de propaganda de Hitler. Os nazistas tinham resolvido buscar o melhor rival possível para acabar com o FC Start, que já gozava de enorme popularidade entre o sofrido povo refém dos nazistas. A surpresa foi grande, porque apesar da violência e falta de esportividade dos alemães, o Start venceu por 5 a 1.

Depois dessa escandalosa queda do time de Hitler, os alemães descobriram a manobra do padeiro. Assim, de Berlim chegou uma ordem de acabar com todos eles, inclusive com o padeiro, mas os hierarcas nazistas locais não se contentaram com isso. Não queriam que a última imagem dos russos fosse uma vitória, porque acreditavam que se fossem simplesmente assassinados não fariam nada mais que perpetuar a derrota alemã. A superioridade da raça ariana, em particular no esporte, era uma obsessão para Hitler e os altos comandos. Por essa razão, antes de fuzilá-los, queriam derrotar o time em um jogo. Com um clima tremendo de pressão e ameaças por todas as partes, anunciou-se a revanche para 9 de agosto, no repleto estádio Zenit. Antes do jogo, um oficial da SS entrou no vestiário e disse em russo:
- “Vou ser o juiz do jogo, respeitem as regras e saúdem com o braço levantado”, exigindo que eles fizessem a saudação nazista.

O time alemão
O time alemão
O time do Star
O time do Star

Já no campo, os jogadores do Start (camisas vermelha e calções brancos)  levantaram o braço, mas no momento da saudação, levaram a mão ao peito e no lugar de dizer: – “Heil Hitler!”, gritaram – “Fizculthura!”, uma expressão soviética que proclamava a cultura física. Os alemães (camisa branca e calção negro) marcaram o primeiro gol, mas o Start chegou ao intervalo   ganhando por 2 x 1. Receberam novas visitas ao vestiário, desta vez com armas e advertências claras e concretas:
- “Se vocês ganharem, não sai ninguém vivo”,ameaçou um outro oficial da SS. Os jogadores ficaram com muito medo e até propuseram-se a não voltar para o segundo tempo. Mas pensaram em suas famílias, nos crimes que foram cometidos, na gente sofrida que nas arquibancadas gritava desesperadamente por eles e decidiram, sim, jogar.

Deram um verdadeiro baile nos nazistas. E no final da partida, quando ganhavam por 5 x 3, o atacante Klimenko ficou cara a cara com o arqueiro alemão. Deu lhe um drible deixando-o  estatelado no chão e ao ficar em frente a trave, quando todos esperavam o gol, deu meia volta e chutou a bola para o centro do campo. Foi um gesto de desprezo, de deboche, de superioridade total. O estádio veio abaixo.

Como toda Kiev poderia a vir falar da façanha, os nazistas deixaram que saíssem do campo como se nada tivesse ocorrido. Inclusive o Start jogou dias depois e goleou o Rukh por 8 x 0. Mas o final já estava traçado: depois dessa última partida, a Gestapo visitou a padaria. O primeiro a morrer torturado em frente a todos os outros foi Kordik, o padeiro. Os demais presos foram enviados para os campos de concentração de Siretz. Ali mataram brutalmente a Kuzmenko, Klimenko e o arqueiro Trusevich, que morreu vestido com a camiseta do FC Start. Goncharenko e Sviridovsky, que não estavam na padaria naquele dia, foram os únicos que sobreviveram, escondidos, até a libertação de Kiev em novembro de 1943. O resto da equipe foi torturada até a morte.

Ainda hoje, os possuidores de entradas daquela partida têm direito a um assento gratuito no estádio do Dinamo de Kiev. Nas escadarias do clube, custodiado em forma permanente, conserva-se atualmente um monumento que saúda e recorda àqueles heróis do FC Start, os indomáveis prisioneiros de guerra do Exército Vermelho aos quais ninguém pode derrotar durante uma dezena de históricas partidas, entre 1941 e 1942. Foram na maioria, mortos entre torturas e fuzilamentos, mas há uma lembrança, uma fotografia que, para os torcedores do Dinamo, vale mais que todas as jóias em conjunto do Kremlin. Ali figuram os nomes dos jogadores. (foto acima)

Goncharenko e  Sviridovsky, únicos sobreviventes, junto ao monumento de homenagem ao time

Goncharenko e Sviridovsky, únicos sobreviventes, junto ao monumento de homenagem ao time

Na Ucrânia, os jogadores do FC Start hoje são heróis da pátria e seu exemplo de coragem é ensinado nos colégios. No estádio Zenit uma placa diz “Aos jogadores que morreram com a cabeça levantada ante o invasor nazista”.

(Meu agradecimento especial ao amigo Rodrigo Borges, de Uberaba(MG) que me completou essa história)

 

Fonte:  Blog do Dr. Osmar de Oliveira, clique aqui e conheça